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terça-feira, 19 de janeiro de 2010

''You'll always find your way back home...


yeah, they know exactly who you are...''


porque o meu colégio sempre foi e sempre será a minha segunda casa, lá eu me sinto em casa.Quem melhor descreveu o sentimento de despedida foi o Victor,um texto genial tipico dele, então resolvi postar:


Conto de Despedida

"O tempo era chuvoso. Estabelecimentos aderiam lentamente ao novo dia. O trânsito manifestava-se através de engarrafamentos. Nada fugia do normal. Tudo era habitual. De dentro de um dos carros, um garoto percebia a normalidade daquela manhã. Seu rosto apoiava-se contra a janela, e seu olhar, como um viajante atento que não perde um único detalhe, percebeu que tamanha normalidade era, naquele momento, uma dádiva.Passou pelas esquinas que tanto conhecia, pelos semáforos, que iam ritmando seu percurso tal qual um maestro, pelas praças cujas árvores haviam-se acostumado a vê-lo diariamente, no mesmo carro, com a mesma roupa, indo ao mesmo lugar, por tanto tempo. A roupa, naquele último ano, estivera um pouco diferente da habitual, mas nunca deixando de expor com irreverência as qualidades que faziam o garoto digno de vesti-la.O carro parou na esquina de sempre. Vários outros faziam o mesmo. Barulhos de porta se fechando. Despediu-se do pai e desceu, com a mochila nas costas. Bateu a porta.Logo ali, enquanto atravessava a rua e se aproximava do muro amarelo, o garoto já pôde presenciar dois irmãos caminhando rumo ao portão de seu colégio. Eram crianças, o mais velho talvez já soubesse ler. Suas mochilas pareciam maiores do que eles. Carregavam-nas, porém, com a determinação de pequenos cidadãos, como se daquele ato emanasse um atestado de que eram capazes de tudo. O mais velho, vez ou outra, ainda se oferecia para ajudar o irmão, que o repelia. O bom dia aos funcionários veio com o sorriso de sempre. Os bancos da recepção dos alunos, vazios naquele momento, lembravam ao garoto o término de suas aulas nos anos anteriores. Era uma multidão de alunos e companheiros, cujos berros e discussões eram quase uníssonos urros de confraternização e liberdade, sem a preocupação do carão de um professor. Vamos ao pastel? Eu quero dindin. Vamos pra árvore então. Que tal padaria? Padaria é cara, fazendinha é longe. Tio, compra um pastel pra mim? Não tem de misto? Pega um brownie então.O garoto riu. Naquela época, já achava que o mundo lhe pertencia e que ele pertencia ao mundo, talvez por considerar o mundo uma esfera um pouco maior que o seu colégio. Lembrou-se também da época em que seus pais iam buscá-lo diretamente junto às tias da educação infantil. Essas lembranças, porém, ligavam-se mais a sensações experimentadas do que a fatos propriamente ditos: sentiu o gosto do lanche, as primeiras descobertas, as brincadeiras de criança... que brincadeiras seriam essas? Não lembrava, mas sabia que haviam sido boas.Havia filas na catraca. Nunca soubera durante aquele último ano se deveria passar o cartão. Sempre confiou na certa liberdade que os alunos de sua série tinham diante dessas questões mais burocráticas. “Mas eu estou no terceiro ano”, era sempre a desculpa para tudo. Lembrou-se de certa manhã em que o Bosco perguntou-lhe porque ele não estava com o fardamento completo (a camisa do terceiro ano estava suja e ele estava vestindo uma dos anos anteriores). Mas eu sou do terceiro ano, ele respondeu. E foi a primeira vez que viu seu supervisor geral sorrir.A frente da cantina do colégio abrigava dezenas de crianças que esperavam o toque. O garoto, quando mais novo, detestava ficar parado ali, esperando. Preferia correr, como sempre correm as crianças. Não é um impulso natural que elas têm? Não foi essa, porém, a lembrança que lhe veio ao rever, talvez pela última vez, aquele espaço. Lembrou-se de uma certa semana em que aquele piso fora ocupado por toalhas de piquenique, bolos, refrigerantes, biscoitos e muita energia. Fora uma tentativa – para o garoto, bem-sucedida – de demonstrar que, apesar da pouca idade, eles tinham, sim, voz. E tinham o que falar. Mesmo que ninguém quisesse escutar.Passou por entre as quadras, lembrou-se de seus recreios, como eles pareciam menores. Agora no terceiro ano, vinte minutos sem estudar eram o maior oásis do dia. No fim do intervalo, claro, vinha a água com gosto de ferro do bebedouro. Ainda assim, era a melhor água aurífera que o garoto já provara. Que vontade de não ir pra aula. Tudo era chamativo, tudo lembrava ao garoto seus anos naquele colégio. O parquinho, a areia, o escorregador vinham à frente. Que diria seus filhos quando contasse que, na infância, fugia das aulas de educação física para brincar ali? Os brinquedos não eram os mesmos, mas a areia continuava chamativa. E então, o ginásio. Sempre imponente. Olhar para o ginásio era olhar para tudo de grandioso que acontecera nos últimos anos. Era impossível não lembrar-se dos jogos da SICE, alguns foram tão marcantes e inacreditavelmente recompensadores, servindo como prova de superação para muitos de seus companheiros. Os gritos da torcida, sempre embalados por palmas e chavões, ressoavam pela cabeça do garoto, quase como se ele pudesse ouvi-los. Não fez muito esforço para lembrar-se das apresentações de dança. Lembrou-se das vitórias e das derrotas. De como crescera ali, quase tanto quanto o próprio ginásio.E chegara ao seu destino final. O garoto, cara-a-cara com o portão de ferro preto, aquele que era o guardião das salas. Que o impedira de assistir à sua última SICE. Que os mantinha seguros ali dentro. Não sabia que o passo final, o de cruzar o portão e finalmente viver seu último dia de aula, seria tão difícil de ser dado. O garoto estava estático. Seus colegas já entravam nas salas. Os professores também. Professores não, mestres de uma vida inteira. Lembrou-se mesmo dos de sua pequena infância. Foram todos eles responsáveis por boa parte do que o garoto era naquele momento. Porque eles souberam compreender, ao longo da jornada, que nem sempre o mais importante era o português ou a matemática.Olhou ao redor. Viu como um filme em sua cabeça os inúmeros momentos de reflexão e crescimento que teve, proporcionados por aquela instituição. Nunca poderia agradecer de forma plena o quanto havia aprendido ali. Porque para ser grande, tem que ser inteiro, com os valores e as atitudes cultivados. E viu seus amigos. Estremeceu. Sentiu orgulho, cada um soube fazer de sua própria jornada uma aventura épica. Alguns nem sabiam que aquele garoto lhes tinha atenção, porque cada um deles, mesmo aqueles com que ele mal falava, ilustravam seu cotidiano. Observava-os quando menos esperavam. Aprendia com eles nos mais simples gestos. Ali, palavras não seriam suficientes para revelar-lhes sua importância. Mas o garoto tinha medo. Sabia que não encontraria outros amigos como aqueles. Percebia a importância que tiveram momentos como simples discussões acerca de um conteúdo ou aquele tapinha nas costas que o acordava nas aulas que menos gostava. E se não encontrasse mais momentos assim? O garoto estava estático, as pessoas passavam por ele no portão, mas a incerteza permanecia. Não poderia saber. Deveria arriscar? Teria ele opção? À sua frente, da porta de uma das salas, um de seus amigos o chamou para a aula. E o garoto sorriu ao cruzar o portão.”
Victor Costa Lopes




Valeu Victor.:D



Mari.

PS: ILOVECSC!

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